os relevantes serviços de Tintin à Monarquia
por João Afonso Machado, em 11.09.10
A anunciada reedição pela ASA de toda a
colecção Tintin relembrou-me um texto antigo, publicado já não sei
aonde, sobre o monarquismo de Georges Remi (Hergé). Nada de
extraordinário, tratando-se de um belga, e algo bem patente no album O Ceptro de Ottokar.
Escrito em 1938, logo após a anexação da Áustria pela Alemanha, já de
olho no território dos Sudetas e no "Protectorado da Boémia e Morávia",
esta conseguida obra de Hergé espelha ainda a ameaça pairante sobre a
Polónia.
O imaginário do Autor levou-o a criar
dois países rivais: a Sildávia, uma monarquia democrática, e a Bordúria,
autocrática e expansionista. A paisagem e o cenário político da Roménia
de Carlos II e da Albânia do rei Zog I dão também o seu contributo.
Mas, dizem os entendidos, tudo se poderia melhor resumir a um conflito
entre a Moldávia e a Bulgária.
Por mero acaso, Tintin detecta a
conspiração, através das ramificações em Bruxelas do Zildav Zentral
Revolutzmar Komitzet (ZZRK) cujo chefe se chama Mussler (obvia
combinação de Mussolini e Hitler). e o plano é simples: trata-se de
roubar o Ceptro do medievo rei Ottokar II, símbolo da unidade e
continuidade nacional; simultâneamente, de ocupar alguns pontos vitais
sildavos e provocar desacatos com os vizinhos borduros, por modo a
justificar a invasão das tropas destes. A falta de exibição do ceptro
nos festejos de S. Vladimiro, conforme a tradição, pelo reinante Muskar
XII produziria um estado de descrédito e de amedrontamento popular que,
fatalmente, conduziria á abdicação do monarca.
Tintin viaja para a Sildávia, conhece o
Rei que o atropela quando conduz, ele próprio, o seu automóvel, e, de
imediato, lhe narra toda a trama. Não duvidando das palavras do
repórter, Muskar XII teve oportunidade de as confirmar, pese embora logo
após o roubo do ceptro. Este é recuperado por Tintin, o S. Vladimiro foi o costumeiro sucesso, a revolução totalitária fracassara completamente.
Tintin percorre, enfim, as ruas de Klow,
a capital, no coche real, delirantemente aplaudido - ele e a Família
reinante - e sendo, depois, o homenageado em magnifica recepção no
Palácio, só perturbada por mais uma aselhice dos Dupont .
Esperava-o ainda a mercê do grau de
Cavaleiro da Ordem do Pelicano de Ouro, a mais alta condecoração
sildava. Muito justamente, acrescente-se: Tintin acabara de salvar a
Coroa e a democracia, naquele pequeno reino entre os Balcãs e a
premonição de Hergé.
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