O golpe das Honduras, depois de longo intervalo pacífico na região, retoma costume antigo mas com uma diferença radical nas reacções que provoca. Aos 55 anos e já Presidente, Zelaya, rancheiro conservador rico, virou populista de esquerda e fã de Hugo Chávez. Para cativar o povo tomou medidas ruinosas e tornou-se apologista da democracia directa.
Com popularidade caída abaixo de 30% quis ser presidente perpétuo. Obteve com muita coacção alguns milhares de assinaturas a pedir "consulta popular" sobre a limitação do seu mandato, fez imprimir boletins para ela em Caracas e encarregou o chefe de Estado-Maior de garantir a ordem durante a operação. Legalista e apoiado pelas outras instituições políticas do país, o CMGFA recusou o encargo e demitiu-se. No domingo, a tropa foi pôr Zelaya na Costa Rica. Chávez acusou logo a CIA e os Estados Unidos mas o tiro saiu-lhe pela culatra porque Obama condenou o golpe, dando unanimidade à decisão tomada pela Organização dos Estados Americanos, a qual intimou Tegucigalpa a devolver já o poder a Zelaya ou ser expulsa. Este passou pela Assembleia Geral da ONU onde o aclamaram e propôs-se voltar à pátria, acompanhado por alguns Presidentes latino-americanos, mas nas Honduras o Presidente interino disse que o mandaria prender à chegada. A OEA deu mais tempo a Tegucigalpa para obedecer ao ultimato e multiplica-se em contactos para encontrar saída airosa do imbróglio.
Foi efeito do factor Obama. Quem mandou a tropa depor o Presidente demagogo e populista de esquerda que queria mudar a Constituição ilegalmente tinha contado com o apoio dos Estados Unidos ou pelo menos com a sua anuência. Porém o tiro, como o de Chávez, saiu-lhe pela culatra. Washington não só condenou o golpe como suspendeu a ajuda militar (não aplicou sanções porque acha que já há pobreza de mais nas Honduras).
Perdidos há muito Alcazar e Tapioca, os políticos da zona deixam agora de saber ao certo com que contar dos Estados Unidos.
Se uns ficarem sem papão e outros sem padrinho vão ter de deitar contas novas à vida.
José Cutileiro, Expresso, 04/07/2009
Se uns ficarem sem papão e outros sem padrinho vão ter de deitar contas novas à vida.
José Cutileiro, Expresso, 04/07/2009
Sem comentários:
Enviar um comentário